No reino dos míscaros ou terra dos dois acentos
Créditos da foto: site da autarquia( https://www.cm-satao.pt/ )
Para aqueles que eventualmente não sabem, comecemos por esclarecer o que são os míscaros. Trata-se de uma das espécies de cogumelos comestíveis, também chamados de sanchas, sendo uma iguaria muito apreciada que, inclusivé, dá azo à realização de uma festa temática neste concelho que vamos visitar.
De origem muito antiga - a primeira carta de foral foi-lhe concedida no ano 1111 pelo conde D. Henrique - o concelho de Sátão chamava-se inicialmente Zalatane. De referir a singularidade do atual nome possuir dois acentos gráficos numa única palavra.
Seguindo o lema deste blogue - à descoberta do interior de Portugal - desta vez propomo-nos descobrir algumas das belezas naturais e patrimoniais desta região que, embora pouco referidas nos roteiros turísticos, não deixam de nos surpreender.
Assim, para cá chegarmos e após acedermos à capital do distrito (Viseu) através da A 25, devemos seguir para o nosso destino através da E.N. 229.
A partir do centro desta vila continuamos em direcção a nordeste neste território que, conjuntamente com os concelhos vizinhos, o grande mestre Aquilino Ribeiro nos seus livros descreveu magistralmente o carácter destas gentes - estamos em terras do demo. São paisagens magníficas onde ao lado de montes agrestes e de imponentes penedias, vicejam férteis vales verdejantes cruzados por diversas linhas de água, onde impera o famoso rio Vouga.

É precisamente na margem de um dos afluentes do Vouga que iremos fazer a nossa primeira paragem: junto da igreja do convento de Santa Eufémia. Fundado no ano ano 1111, este convento beneditino feminino, de clausura, é composto por ermida de sua evocação, igreja de nave única, capela-mor, sacristia e dois coros, um inusitado mirante (!), dependências, estalagem e casa do capelão. A porta principal é lateral, por ser uma congregação de clausura, encimada pela imagem do seu patrono. A igreja é pública - restantes instalações monacais são privadas - possuindo altares em talha dourada e revestimento de azulejos de tapete.
Continuemos a nossa jornada, sempre acompanhados pelo Vouguinha, como por aqui é carinhosamente chamado este rio que nasce na vizinha serra da Lapa e vai morrer nos braços do Atlântico, em Aveiro, após ter percorrido 148 kms de encantadoras paisagens.
Esta nova etapa vai levar-nos à antiquíssima ex-vila de Ferreira de Aves. Com efeito, para além da existência de várias orcas (antas pré-históricas), em 1126 teve foral concedido pelos pais do nosso primeiro rei em agradecimento pelo apoio e bom acolhimento recebido destas gentes.Crédito das fotos: Junta freguesia de Ferreira de Aves (https://jfferreiradeaves.pt/galeria/#iLightbox[gallery_image_2]
Esta região é riquíssima no que diz respeito ao património edificado, nomeadamente o de cariz religioso. Veja-se, por exemplo, o caso da igreja matriz de Santo André (Ferreira de Aves). Edificada em estilo românico no séc. XII, sofreu diversas alterações ao longo dos tempos, nomeadamente do barroco no séc. XVIII. Composta por três naves, uma das suas particularidades está no pórtico românico do portal lateral. Neste, um par de colunas com capiteis trabalhados ladeiam o tímpano onde está esculpido um dragão mordendo a sua própria cauda - uma alusão à maldade que se devora a si própria, ou seja, fazer o mal é autodestrutivo e só o bem constrói...
Ladeados por belos e verdejantes campos agrícolas, prosseguimos para a última etapa desta breve incursão em território satense. De súbito, escondida no meio do pinhal que ciosamente a preserva de olhares indiscretos, uma (boa) surpresa nos aguarda: a praia fluvial do Trabulo.
Inaugurada em 2017 e galardoada com o prémio revelação, este autêntico oásis formado pelas águas do Vouga e rodeado pela floresta envolvente, constitui um privilegiado habitat para aves e animais autóctones bem como um autêntico berçário da fauna aquática. Possuindo instalações de apoio balneares, nadador-salvador e outras valências é, sem dúvida, um verdadeiro refrigério para o corpo e para a alma em época de canícula. Desfrutem!
P.S. Para os amantes de turismo de natureza/trekking sugiro que explorem o percurso pedestre PR 1 SAT - Rota do Míscaro (ver aqui) onde, para além de incluir locais como os acima mencionados, permite uma verdadeira imersão pela natureza desta região beirã.